Ela desnomeia

Ela desnomeia A definição não é alheia à vontade de substituir o sistema dominante, socialmente estabelecido. A indefinição, contudo, corresponde a outra estratégia, uma que exige que nos mantenhamos abertos ao mundo e aos outros. Nada, nem mesmo a linguagem, está garantido. Afinal, “desnomear” nem sequer é uma palavra. Eva tem estado sempre a imaginar um mundo diferente daquele que conhecemos.

Corpo

01.04.2025 | por Marta Rema

Kaydara - introdução

Kaydara - introdução Kaydara é o título de uma história didáctica que faz parte do ensino tradicional do povo fula da região da curva do rio Níger. É habitual o mestre contar a história em serões, perante um público de jovens e idosos. Na maior parte das vezes, conta apenas fragmentos; chega ao círculo dos aldeões, senta-se, conta a história, pára e só retoma o seu relato três meses mais tarde. Porém, por vezes, conta-a de uma só vez durante “as longas noites da estação fria”, enquanto um guitarrista o acompanha. Ou pode começar subitamente a desenvolver um dos símbolos, por ocasião de um acontecimento que tenha analogias com esse mesmo símbolo.

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30.03.2025 | por Amadou Hampâté Bâ

O Espelho

O Espelho Ainda hoje, neste século 21, os Negros debatem-se contra o Espelho, contra si, contra o Deus branco. De cada vez que um africano negro besuntar o rosto e o corpo com creme ‘branqueador’, de cada vez que uma africana negra envergar uma cabeleira ‘lisa’ – e o número desses casos é exorbitante -, continuamos a assistir à luta dos Negros contra o Espelho, contra o seu limite, imposto pelo Homem Branco. Esse limite é a ‘Vergonha’ de ‘Ser’.

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28.03.2025 | por Brassalano Graça

O ‘Jardim Imperial’ de Délio Jasse, ou Jardim das Delícias Brancas

O ‘Jardim Imperial’ de Délio Jasse, ou Jardim das Delícias Brancas     Jasse considera como os vários projetos coloniais europeus partilharam o mesmo objetivo, pelo qual competiam, de aceder a todo o tipo de recursos para benefício económico das suas elites – uma realidade que, sendo agora impulsionada sob novas roupagens globalizadas por novos (a par dos mesmos velhos) agentes dos chamados progresso e desenvolvimento, está longe de ter terminado.

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25.03.2025 | por Ana Balona de Oliveira

Futuro a três metáforas: um passo atrás do outro

Futuro a três metáforas: um passo atrás do outro O corpo abre durante as caminhadas, principalmente nas mais arriscadas onde nenhum pensamento se pode atravessar entre mim e o terreno. Nada mais para além do pousar o pé ali, por inteiro, atenta às condições de cada passo. Escritores, filósofos, tantos já escreveram sobre esta tarefa simples de colocar um pé a seguir a outro, por caminhos novos ou pertencentes a uma rotina que vai desvelando o lugar de cada vez que é cumprida.

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18.03.2025 | por Liliana Coutinho

«Quem nunca foi à bruxa, que dance na torre do sino!»

«Quem nunca foi à bruxa, que dance na torre do sino!»   Um livro raro no panorama histórico da literatura portuguesa, uma obra prodigiosamente construída, numa escrita requintadamente equilibrada entre a fascinante sugestividade imagética e a inquiridora descritividade contida, onde a ironia e o humor são preciosos condimentos narrativos que nos permitem um deliciado prazer de leitura. Atrevo mesmo dizer: um belíssimo romance, em que não falta a densidade psicológica das personagens, numa polifonia de vozes e saberes, e um virtuoso emaranhado mágico de ambiências. Retrato fiel, acrescente-se, de um Portugal pouco menos que medievo.

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18.03.2025 | por Zetho Cunha Gonçalves

O si-mesmo como sujeito imperial

O si-mesmo como sujeito imperial Propõe-se um percurso que se quer exaustivo da literatura colonial portuguesa dos anos 1920 relativa a Moçambique. Numa primeira parte, são facultados dados contextuais e definidos conceitos operatórios de análise indispensáveis para se empreender o estudo das narrativas coloniais e do seu tempo histórico. São depois apresentados dados biográficos dos principais autores desse período, bem como as suas obras. A análise centra-se em seguida nos dois grandes vetores, geográfico e morfológico, de constituição e divisão dos sujeitos coloniais.

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17.03.2025 | por João Manuel Neves

Entre cartas e fotografias: uma pequena história do colonialismo – Parte II

Entre cartas e fotografias: uma pequena história do colonialismo – Parte II Pesquisadores (e historiadores em particular) costumam atribuir suas descobertas ao sucesso de uma busca obsessiva pelo fato, atribuem achados ao ato de procurar incessantemente a determinação mais precisa do passado. Esquecem-se assim do caráter fragmentário de todo arquivo e de como cada um dos documentos que o compõe podem nos trazer “vestígios do passado [que] visam o presente e nos dizem alguma coisa. É graças às suas lacunas que os arquivos ainda nos olham” (Ibidem). As “descobertas” historiográficas são, portanto, a correspondência entre o olhar do historiador e o passado que ressurge como um relâmpago tensionado para o futuro.

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16.03.2025 | por Luciana Martinez

Crónica da morte anunciada da sátira

Crónica da morte anunciada da sátira Se calhar é esse o segredo da sátira: portar-se como o gato de Schrodinger: por cada lado que a quer ver morta há um oposto que a mantém viva. Mas isto é só um se calhar, eu mal percebo de humor quanto mais de física para saber se a metáfora é realmente aplicável. Como dizia uma ilustre pensadora portuguesa, Lili Caneças, estar vivo usualmente é o contrário de estar morto e, desse ponto de vista, será que a sátira é mais lazarenta que o próprio Lázaro.

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15.03.2025 | por Pedro Goulão

A Tanga Rota da Pandialetalidade [ou os propósitos supremacistas/bairristas de dona Dominika e suas nacionais e desalmadas ajudantas, ora erigidos como vera língua do povo das ilhas]

A Tanga Rota da Pandialetalidade [ou os propósitos supremacistas/bairristas de dona Dominika e suas nacionais e desalmadas ajudantas, ora erigidos como   vera língua do povo das ilhas]   O processo de normalização linguística, como as senhoras dotóras sabem bem melhor do que eu, simples poeta que sou, deve ter um carácter prospetivo de resposta ao conflito linguístico, e na sua dinâmica não deve contribuir para o acirramento do conflito, como ora fazem as mentes proponentes, as autoras materiais, as consultoras cientificadas e revisoras do manual, benza-as deus, com a sua tentativa pouco encapotada de golpe.

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11.03.2025 | por José Luiz Tavares

Ainda estamos aqui, com a nossa metodologinga

Ainda estamos aqui, com a nossa metodologinga Com quantas palavras se compra a representatividade étnico-racial na produção de conhecimento, de arte, e de cultura? Quantas são necessárias para barrar o tokenismo e o epistemicídio em curso? Para quando uma justiça distributiva onde o financiamento científico e de formação avançada beneficiem realmente aquelas pessoas, grupos e culturas historicamente escamoteados?

Mukanda

04.03.2025 | por Gessica Correia Borges

O futuro foi ontem: os chineses continuam a treinar pombos-correios

O futuro foi ontem: os chineses continuam a treinar pombos-correios A memória, pessoal, colectiva ou cultural, nestes tempos hediondos que vivemos e aos quais ninguém é imune ̶ década segunda do século XXI, que deveria ser o século da mais consumada e prazerosa felicidade humana ̶ porém, tempos de inequívoca e perfeitíssima Idade da Pedra lascada “futurista” ̶ , onde a sua rasura (da memória, bem entendido), adulteração, apagamento e extermínio são milimetricamente calculados e mui democraticamente impostos e acriticamente aceites como «o novo normal» ̶ , é outra das questões fulcrais que se nos colocam.

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04.03.2025 | por Zetho Cunha Gonçalves

Considerações gerais sobre o bilinguismo literário e o bilinguismo oficial caboverdianos, com especial enfoque na aberração linguística constante do manual de língua e cultura caboverdianas

Considerações gerais sobre o bilinguismo literário e o bilinguismo oficial caboverdianos, com especial enfoque na  aberração linguística constante do manual de língua e cultura caboverdianas é uma infeliz tentativa de imposição de um crioulo sumamente artificioso com recurso a regras gramaticais originárias predominantemente das variantes de barlavento da língua caboverdiana, precisamente naqueles pontos que foram considerados pelo grande filólogo caboverdiano Baltasar Lopes da Silva como as suas insuficiências intrínsecas, isto é, a sua incompletude vocálica...

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02.03.2025 | por José Luís Hopffer Almada

Cabemos nesta BUALA há 15 anos! -depoimentos

Cabemos nesta BUALA há 15 anos! -depoimentos "O BUALA iniciou em Portugal uma rutura com a tradicional rigidez canónica do olhar eurocentrado sobre a colonialidade que marca as relações entre antigos poderes coloniais e espaços outrora colonizados. O BUALA desprovincializou o debate pós-colonial em Portugal ao abri-lo a outros contextos geográficos fora do espaço lusófono, libertando-o da redoma académica em que esteve fechado durante muito tempo. Esse caráter polissémico da sua articulação interdisciplinar ajudou ainda a desobstruir o caminho entre academia e militância, entre teoria e prática." Mamadou Ba

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01.03.2025 | por vários

6 falsas novelas

 6 falsas novelas La Serna manifesta, coerente à lógica das Greguerías, o dom das grandes revelações: de nos parecer tão óbvio, não o víamos. A expressão criativa e original dos seus textos devem a um amplo poder de percepção, salientando-se como figura fulcral a metáfora. As suas conjugações metafóricas enredam esta escrita numa imensa liberdade poética.

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26.02.2025 | por Marta Lança

Arder no Gelo - pré-publicação

Arder no Gelo - pré-publicação Arder no Gelo é a mais recente novela do jovem multipremiado escritor moçambicano Mélio Tinga, fruto de uma residência literária em Portugal. A prosa de Mélio tenta chegar aos confins da alma para descrever o indiscritível. Um livro feito de sensações que pode definir-se numa da suas diatribes: “És como o pássaro que levaste na gaiola, com a decidida intenção de deixá-lo voar (mas está ainda ali, pendurado). Atiraste-te à rua, infestada de tudo que te foi diluindo. Viver a fugir do vento e do sol. Esbofetear o mundo e entrar para esse teu planeta geométrico, poligonal, imóvel.”

Mukanda

26.02.2025 | por Mélio Tinga

Quando dois livros se propõem identificar o que correu muito mal nos 50 anos de independência

Quando dois livros se propõem identificar o que correu muito mal nos 50 anos de independência Não temos memória de em Angola alguém pertencente à Segurança de Estado ter feito, e da forma como fez, uma ruptura tão grande com o regime e com contornos que têm claramente o perfil de uma denúncia politico-constitucional, pois toda a sua narrativa é feita na prespectiva de quem entende que em Angola o Estado Democrático de Direito está seriamente condicionado por interesses pessoais ou de grupo no âmbito de uma estratégia maquiavélica onde o fim maior, que é a eternização do actual poder rubro-negro, justifica todos os meios que estão a ser usados o que passa, nomeadamente, pela manipulação da comunicação social e do próprio processo eleitoral.

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23.02.2025 | por Reginaldo Silva

Quatro notas sobre a atual conjuntura sociopolítica em Cabo Verde

Quatro notas sobre a atual conjuntura sociopolítica em Cabo Verde Sendo certo que a democracia continua a ser o regime político que os cabo-verdianos mais acreditam, também é uma evidência que aumentou para quase 30% a abertura da população a uma provável intervenção militar em caso de abuso de poder da classe política. Penso que tal indicador deve ser lido com preocupação e não descredibilizada por parte de pessoas que só podem ser vistos como estando a habitar numa bolha partidária ou mesmo elitista.

Cidade

23.02.2025 | por Redy Wilson Lima

Reparar na língua é fazer cumprir Abril

Reparar na língua é fazer cumprir Abril Essas ilhas cabo-verdianas dentro de uma metrópole ainda colonial reconfiguram uma autêntica zona libertada onde homens e mulheres de gerações diferentes não cessam de se afirmar a sua existência. Não será exagerado comparar uma horta urbana cabo-verdiana com um jardim crioulo na acepção glissantiana. Todos esses lugares de sementeira são insurgências silenciosas contra a plantação, contra a monocultura (linguística). A música é um dos maiores veículos de polinização deste territórios arquipelágicos que nos ligam.

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22.02.2025 | por Apolo de Carvalho

António Jacinto ou o empenhamento poético para a liberdade

António Jacinto ou o empenhamento poético para a liberdade Só uma criança tem o mais absoluto e implacável sentido da justiça e da Liberdade irrestrita, inconspurcável — António Jacinto é essa criança interminável e atenta, implacável e dadivosa como um Sol erguendo-se do Golungo Alto ou do CIR Kalunga, acalentando a Humanidade inteira — sem guetos de espécie absolutamente alguma, menos ainda, guetos devido à cor da pele, ao credo professado ou à escala social. É esse António Jacinto que aqui está, nesta possível «Obra Reunida», que o leitor tem agora nas suas mãos.

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21.02.2025 | por Zetho Cunha Gonçalves